sábado, 29 de maio de 2010

Ciúme...

- Vem aqui! Estou falando com você! 
Ela me segurou pelo braço e me olhou, raivosa. 
- Nunca mais saia andando quando eu estiver falando com você. 
E me deu uma bofetada.


Ciúme... 
A primeira vez em que ela me bateu, achei que fosse em um momento de raiva, e que nunca mais aconteceria. Mas eu estava enganada. 
Tudo começou quando saímos para dançar. Ela encontrou várias amigas e as apresentou pra mim. 
Eu estava dançando, quando uma de suas amigas se aproximou para conversar. Parei de dançar e dei atenção a ela. 
Minha namorada aproximou-se, pegou em meu braço e me levou para o banheiro. 
- O que ela queria? - Perguntou minha namorada, visivelmente irritada. 
- Nada! Só conversar. 
- Conversar o que? 
- Ela só queria me conhecer melhor, afinal, ela é sua amiga. 
- O que ela te falou? 
- Fez perguntas. De onde sou, há quanto tempo estamos juntas, minha idade, coisas bobas. 
- Por quê? 
- Por que o que? 
- Por que ela queria saber coisas sobre você? 
- Como vou saber? 
- O que mais falaram? 
- Mais nada. Você chegou. 
- Não quero que saia de perto de mim. 
- Eu não saí de perto de você, foi você quem fez isso. 
- Ta. Agora é pra ficar comigo. 
Saímos do banheiro de volta à pista. Eu não senti mais vontade de dançar e sentei-me à mesa. As amigas de minha namorada estavam lá. Algumas acompanhadas, outras, não. 
A garota que tinha ido conversar comigo, sentou-se à mesa também. E ficava me olhando. Eu não gostei do jeito que ela me olhava, e me senti mal, vendo que minha namorada olhava pra ela, e pra mim, com um olhar de reprovação, como se eu estivesse fazendo alguma coisa errada. 
Era tarde, quando saímos da boate para ir embora. Nos despedimos das amigas dela, e quando eu fui me despedir da garota que me olhava, ela falou: 
- Se quiser, posso te levar para casa. 
Minha namorada, furiosa, disse: 
- Não precisa, estamos de carro. Qual é a tua cara? 
- Calma, garota! Só quis ser gentil. Tudo bem, esquece. 
Saímos para o carro. O carro era meu. A caminho de casa, minha namorada não parava de falar, e de me acusar. 
- Você deve ter feito alguma coisa pra ela ficar desse jeito. 
- Eu não fiz nada. 
- Vi como você a olhava. E não negue. 
- Vou negar sim, porque eu nem a olhei. Fiquei sem graça do jeito que ela me olhava e desviei o olhar. Fiquei olhando pra você, não viu? 
- Mas se ela teve coragem de se aproximar de você enquanto você dançava, e ficou de papinho furado, e ainda ficou te comendo com os olhos na mesa... Você deve ter se insinuado. 
- Pára com isso, por favor! Eu não me insinuei, eu não fiz nada. A garota só queria conversar. Você está vendo coisa onde não existe, pára de falar, deixe-me dirigir em paz. 
Quando falei isso, ela me esbofeteou. 
- Meu Deus! Você está louca? Estou dirigindo! 
- Cala a boca, vadia! - Ela gritou. 
Fiquei quieta, porque achei que se eu continuasse falando, ela me bateria de novo, e tive medo de causar um acidente. 
Ela continuou falando e falando, me chamando de todos os nomes possíveis existentes, me acusando de ter seduzido a garota. Eu não fiz isso! Mas ela não acreditava em mim. 
Chegamos em meu apartamento. Ela iria dormir comigo. 
Tirei minha roupa, as sandálias e fui para o banho. Ela entrou. 
- Desculpe. - Disse ela. 
Não respondi. Ela entrou no banho comigo, e começou a me beijar, me tocar e fizemos amor. 
No dia seguinte, era um sábado, íamos ao aniversário de uma de suas amigas, em um bar, mas eu estava sem vontade de sair. 
- Não podemos ficar em casa hoje? Está um friozinho gostoso pra assistir filme, comer pipoca. Podemos pedir uma pizza e... 
- De jeito nenhum! Nós vamos à festa. 
- Mas eu não estou a fim de sair. Vamos ficar. Está frio e estou cansada. Temos saído quase todas as noites, preciso descansar. 
- Não. Eu quero ir e nós vamos. 
- Mas eu não quero ir e não vou. Você pode ir sozinha. 
Depois que falei isso, ela me empurrou contra a parede da sala, me fazendo bater na mesa de jantar, e... Ela... Me bateu. De novo! 
Eu a empurrei e disse: 
- Você está louca? É a segunda vez que me bate. Não faça mais isso, senão... 
- Senão o que? Vai me bater também? - Ela gargalhou. 
Fui para o quarto, e me deitei na cama. Ela me seguiu. 
- O que você está fazendo? 
- Estou deitada, não está vendo? Vou dormir. 
- Dormir? Não! Você vai tomar banho e vai ficar linda pra gente sair. 
- Eu já disse que não quero ir à festa. Se você quiser ir, pode ir. Eu vou ficar. 
- Vai ficar? E quer que eu vá? Por quê? Marcou encontro com alguém aqui? É isso? Você e aquela garota... Ela vem aqui, não é? 
- Pelo amor de Deus! Pára de falar bobagens. Eu pedi pra você ficar comigo, mas se você faz tanta questão de ir a essa festa, vai. Sem mim. 
Ela subiu sobre mim e, puxando meu cabelo, falou: 
- Não quero ter que te bater de novo. Parece que você não está entendendo. Eu vou a esta festa e você vai comigo. Se você não se levantar daí agora... 
Eu a empurrei e saí da cama, gritando. 
- Não vou a "merda" de festa nenhuma! 
Quando eu estava saindo do quarto, ela me pegou pelo braço, e começou a me bater. Bofetadas, empurrões, socos, chutes... Ela estava enlouquecida! Eu não tive nenhuma reação, a não ser pedir para ela parar. Depois de cansar, ela parou. Eu estava no chão, sentada, imóvel, assustada, e chorando.


Ela entrou no quarto, pegou um vestido preto, e jogou em mim. 
- Vai tomar banho. Use esse vestido, adoro quando você coloca ele. Fica mais linda! 
Levantei, e fiz o que ela mandou. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo! 
O vestido que ela queria que eu usasse, era de verão. Preto, com alças, e curto. Com medo, eu falei: 
- Eu... Posso colocar outra roupa? Esse vestido é pra usar no calor, e... 
- Não. Quero você assim. Você está linda! 
Ela me abraçou e me beijou. 
Bom, eu sabia que não ia adiantar argumentar, não conseguiria convencê-la de que eu sentiria frio com aquele vestido, então me calei e obedeci. 
Chegamos à festa. O bar estava lotado. Sentamo-nos a uma mesa, onde havia várias pessoas. Algumas eu já conhecia, outras não, mas desta vez, ela não quis me apresentar. 
A garota da noite anterior, também estava lá. E me olhava daquele jeito, como minha namorada falou: me comia com os olhos. 
Preferi mudar de lugar para me sentar de costas pra ela. Não queria outra confusão. E muito menos ser espancada de novo, sem eu ter feito nada. 
O bar era de esquina, as mesas e cadeiras ficavam na calçada, do lado de fora. Eu estava tremendo de frio. E não poderia beber nada, além de sucos ou refrigerantes, pois era apenas eu quem sabia dirigir. 
Eu rezava para podermos ir embora logo. Eu queria minha casa, minha cama, meu edredom. 
Eram quase quatro horas da manhã, quando finalmente, minha namorada resolveu ir embora. 
Minhas mãos estavam congeladas e dormentes. Minhas pernas e pés, também. 
A caminho de casa, graças a Deus ela dormiu. Quando chegamos, nos trocamos e dormimos. 
O domingo passou tranquilo e, graças a Deus, ela foi pra casa dela. Eu teria uma semana inteira sem ter que levá-la para meu apartamento. 
Trabalhei, nos vimos durante a noite, namoramos e fui para casa. 
Os dias foram passando, e quase todo final de semana ela me batia. Em uma dessas vezes, eu tive que parar o carro na Marginal Tietê, porque senão, eu bateria com o carro. Eu estava sentindo muito ódio. 
- Você não vê que não faço nada? Por que está sempre procurando chifre em cabeça de cavalo? Que droga! Se eu fizer alguma coisa, se eu te trair, você nunca saberá, eu garanto! 
E ela me bateu. Com fúria, eu tirei a chave da ignição, coloquei em minha mão, fechei e lhe dei um murro bem no meio do nariz. Ela começou a gritar: 
- Sua louca! Você quebrou meu nariz! 
Ela segurava o nariz como se quisesse mantê-lo no lugar. Dane-se! 
Liguei o carro e fui direto pra casa dela. 
- Não quero ficar aqui, quero ir pra tua casa. 
- Não! Acabou. 
- Acabou o que? 
- Tudo! Não aguento mais isso. Veja a que ponto chegamos. Você me bate quase todos os finais de semana, me obriga a sair, me obriga a te levar pro meu apartamento, quando quero ter um pouco de privacidade, me machuca, e agora... Chega! Não quero isso na minha vida. 
Ela me pegou pelo pescoço, apertando a minha garganta. 
- Não pense que vai se livrar de mim assim tão fácil. Você é minha e vai continuar sendo. 
Com dificuldade, consegui falar: 
- Pára! Por favor! 
E suportei essa vida durante 1 ano e 4 meses, entre idas e voltas. Eu me escondia das pessoas, me escondia dos amigos e da família, me escondia de mim mesma. Eu tinha vergonha de mim!


Depois me envolvi com outra maluca. Ela me bateu apenas uma vez, estava bêbada. Mas durante 1 ano e 6 meses, também entre idas e voltas, ela bebia, se drogava, me ameaçava, fazia escândalos, me roubava... O pior roubo que ela fez foi o da minha vida. Ela roubou a minha vida! 
Mentiras... 
Falsas ilusões... 
Violência... 
Desrespeito... 
Desconfiança... 
Possessividade... 
Ciúmes...
Medo!


Sempre pensei que atraímos aquilo que somos. Talvez eu tenha atraído esse tipo de gente, porque meus pensamentos e sentimentos estavam impuros. Eu atraí o que eu era. 
Eu as odeio? Não! Quero que elas morram? Também não! O que eu quero? Quero que elas estejam bem, felizes e em paz, porque assim, me deixarão em paz também. 
Não pensem que sou boazinha! Como se fosse “dê a outra face”. Não! Apenas quero continuar em paz! 
Hoje estou feliz. Meus pensamentos e sentimentos estão puros novamente, e atraí uma mulher pura, com sentimentos nobres, nos respeitamos, nos amamos. 
Entre nós o ciúme existe, é claro! Mas não é um ciúme doentio, desconfiado. É um ciúme saudável, cheio de carinho, um ciúme maduro, divertido até! Por que divertido? Vou explicar: 
Se eu me coçar no seio, por exemplo, ela diz: 
“Tira a mão daí! É meu!” 
Bem, eu acho isso engraçado!....rs.

Todo ser humano precisa de carinho, compreensão, respeito. A violência contra a mulher, ultrapassou os limites da razão, da condição social e condição sexual. 

“Na esfera jurídica, violência significa uma espécie de coação, ou forma de constrangimento, posto em prática para vencer a capacidade de resistência de outrem, ou a levar a executá-lo, mesmo contra a sua vontade. É igualmente, ato de força exercido contra as coisas, na intenção de violentá-las, devassá-las, ou delas se apossar...” 

“...Mas nem todos deixam marcas físicas, como as ofensas verbais e morais, que causam dores, que superam a dor física. Humilhações, torturas, abandono, etc, são considerados pequenos assassinatos diários, difíceis de superar e praticamente impossíveis de prevenir, fazendo com que as mulheres percam a referência de cidadania...” 

NÃO USE A VIOLÊNCIA, USE A INTELIGÊNCIA!


RM

12 comentários:

  1. Oi!!!
    Não to feliz com esse conto.
    Parece um REENCONTRO.
    TE AMO!!!

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  2. Aff querendo logo o fim disso td ai,assustador mais sao coisas reais....esperando anciosa o fim desse conto!!
    beijos amiga.

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  3. ahhhhhhhhhhhhhh posta logo o final, to anciosaaa.
    to adorando

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  4. Eu torava as Munhecas delas, Rsrs

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  5. Como sempre vc tocou numa ferida aberta!
    Escandalosamente aberta!
    Me senti a própria personagem: não na violência, mas na forma de desejar que todas estejam bem e felizes pra me deixarem em paz!
    Amo vc, querida Amiga!
    Vc sabe de tudo!!!!

    Beijos

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  6. Bom...
    Vc é uma pessoa de alma pura, sentimentos bons, cheios de amor com as pessoas, que muitas vezes não conhece e nem merecem.
    Querer que elas morram? Pq não?
    Que sejam felizes? Pq?
    Suportar coisas injustas não é fácil.
    Vc merece mais. Vc merece todo o Amor e Carinho que uma pessoa possa te dar, e ainda será pouco.
    Seguir em frente foi a melhor opção. Fazer a fila andar. rs
    AMEI que vc agora encontrou uma pessoa que não te faça sofrer.
    Aguardo outra pastagem mais “felizinha”.
    Tenho certeza que tens muitas histórias hilárias.
    Não demora!!!
    BEIJOS
    !!!

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  7. Bom...
    Se um pessoa diante de um estímulo obtém uma resposta aparentemente negtiva mas, ainda assim, ela repete esse mesmo comportamento, é pq a resposta obtida foi reforçadora, levando-a a repití-la e obtendon a mesmo reforça que diria eu é, com certeza, prazerosa, embora, a principio, ela o negue.
    A perfeitas "cadela" leva porrada e sempre vem com o rabo abanando.
    Vai se feliz com aparência de infeliz o resto da vida !
    Bjus da
    LUCRIS

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  8. Gostei! Bom o texto! rs. O pior é que já passei por isso, então sei bem como é! Só que não um ano e pouco! Sete anos! rs. Me livrei! Mas não foi fácil assim como o seu texto diz! rs.
    Bjão

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  9. Não gostei dessa história. :(
    Bjo.

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  10. Surpreendente!
    História escrita de forma suave mesmo....sendo a mesma, avassaladora para a alma.
    Parabéns RM.

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  11. Demais seu texto. Tentei te adicionar no orkut, mas n tem opção. Te vi atraves do orkut de uma amiga que temos em comum.
    Depois aceite as permissões.
    Sou Ana - http://www.orkut.com.br/Main#Profile?rl=ls&uid=6670853107226157830
    Beijão.

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  12. Parabéns pelo texto....pela escolha do tema....mas me senti absolutamente angustiada em pensar q qdo nos apaixonamos...amamos outra mulher...é pelo fato de buscarmos sensibilidade nela...e seu texto mostrou o lado negro dos sentimentos...a posse.
    Mas como a sua sensibilidade foi maior ...o final foi apoteótico...amor e felicidade plenos.
    bjs querida!

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