sábado, 26 de junho de 2010

Sem limites para amar...(Parte 1)

Meu nome: Jaqueline, mas podem me chamar de Jack.
O nome dela: Lívia, mas podem chamá-la de Livi.
Local: Em alguma cidade do Brasil.

Tenho 28 anos, sou fotógrafa, e acabo de ser contratada para trabalhar em um grande Jornal. Adoro minha profissão, e procuro estar onde as coisas acontecem...
Em meu primeiro dia, fui apresentada aos meus colegas. Uma mulher me chamou a atenção. Ela é Jornalista, e trabalha há alguns anos neste Jornal.
Estatura baixa, um corpo elegante, um andar firme e ao mesmo tempo, sensual. Deveria ter uns 40 anos, aproximadamente. Cabelos no ombro, negros, olhos azuis, vestia-se discretamente. Era uma mulher bonita e... Intrigante! Seu olhar era direto, e assustador! Por que assustador? Porque ela parecia invadir minha alma e ler meus pensamentos. Seu olhar era... Penetrante!
Os meses se passaram e, numa noite chuvosa, meu chefe me telefonou.
- Jack, preciso que vá agora mesmo para o centro da cidade. Estou sem fotógrafos disponíveis no momento e só você poderá me ajudar. É um grande furo!
Levantei-me da cama, me vesti rapidamente, peguei minha câmera, e saí em direção ao endereço me passado. Quando cheguei ao local, apesar da chuva, havia muitas pessoas, carros da polícia, ambulâncias...
- Por que demorou tanto para chegar? Venha comigo! Rápido!
Era Livi, a Jornalista do olhar penetrante. Eu ia trabalhar com ela! Nunca tínhamos trabalhado juntas.
Livi conseguiu me fazer passar pelo cordão de isolamento para que eu fotografasse o ocorrido. Imaginei ter sido um acidente de carro, mas quando cheguei perto... Meu Deus! Fiquei chocada! Paralisada!
Havia 2 corpos. Sim! Só os corpos! Sem... Sem as cabeças!
- Vai ficar apreciando ou pretende fotografar?
Falou Livi, me fazendo despertar do pavor que tinha me tomado.
Fotografei, ainda em pânico, tentando entender quem faria uma coisa dessas. E por que?
Livi entrevistou a polícia, PMs e uma mulher, que parecia ser a Delegada. Entrevistou também alguns curiosos, em busca de alguém que pudesse ter visto algo.
Os corpos foram levados ao IML. Livi e eu fomos para a redação do Jornal.
Transferi as fotografias para o computador, as editei, imprimi, e as entreguei a Livi, para que ela escolhesse.
- Ficaram muito boas!
No dia seguinte, primeira página!
Nosso chefe estava satisfeito com nosso trabalho. Em uma reunião, ele nos fez um comunicado.
- Livi e Jack, vocês estão de parabéns! Fizeram um ótimo trabalho! A partir de hoje, quero vocês trabalhando juntas.
- O que? Gosto de trabalhar com o César! Por que a mudança?
- Porque eu decidi, Livi! Simples, não acha?
Ela se levantou, e saiu da sala. Não entendi porque tanta fúria!
- Relaxe, garota! Logo ela se acostuma e tenho certeza de que vocês se darão muito bem!
Agradeci meu chefe e saí. Sentei-me à minha mesa e organizei algumas fotos. Vi Livi em sua mesa, ao telefone. Logo depois, ela veio em minha direção.
- Vamos! Temos uma reportagem!
Peguei minha câmera e a segui. No estacionamento, eu estava indo para o meu carro, quando ela falou:
- Hei! Vai aonde?
- Pegar o carro!
- Não. Vamos no meu.
- Mas...
Ela nem me deixou falar. Entrou em seu carro, ligou, e abriu a porta do carona para eu entrar.
- Estamos indo pra onde?
- Para a delegacia. Parece que eles tem novidades sobre as cabeças cortadas.
Quando chegamos à delegacia, Livi foi entrando e cumprimentando a todos. Ela tinha passagem livre.
Entramos na sala da Delegada. Era a mesma da noite passada.
- Como vai, Livi?
- O que tem pra mim?
- O caso de ontem não é o primeiro. Tiveram mais 3 casos em outras cidades. Em cada caso, 2 mortos e as cabeças cortadas. E quer saber da maior? Todos eram homossexuais.
- Todos? Então isso é uma execução? Uma carnificina?
- Homofobia, minha cara!
- Tem certeza disso? Tem certeza de que as vítimas eram homossexuais?
- Certeza absoluta!
- Ok! Então vamos divulgar isso! As pessoas precisam ser alertadas.


As mortes continuaram. A polícia investigava, mas não tinham pistas do assassino. As mortes dos gays, com suas cabeças cortadas, repercutiu por todo o país.
Livi e eu continuávamos trabalhando juntas, e mergulhadas neste caso bizarro. Ela ainda era fria comigo, às vezes grosseira, outras, parecia me ignorar.
Em um sábado, eu estava em uma boate, quando me surpreendi, vendo Livi com uma mulher loira e alta. Elas dançavam juntas, pareciam bem íntimas. Era uma boate GLS.
Aproximei-me delas. Quando Livi me viu, percebi seu descontentamento. Ela e a loira, sentaram-se à uma mesa. Pude então ver quem era a loira. A delegada.
Entendendo que Livi não queria conversar comigo, me afastei e continuei dançando.
Domingo, mais dois corpos encontrados sem as cabeças. Livi e eu fizemos a reportagem.
Segunda-feira, mais uma matéria de primeira página. Todos os jornais impressos e televisivos noticiavam o caso, com graves críticas à polícia.

“Mais um caso sobre as mortes dos gays, e a polícia não tem nenhuma pista. Quantos ainda deverão morrer, até que prendam este assassino?”
“A polícia não tem pistas sobre o ASSASSINO DAS CABEÇAS CORTADAS”.
“Mães pedem justiça. Polícia não faz ideia de quem é o assassino, ou os assassinos”.


No final da tarde de segunda-feira, Livi veio até minha mesa.
- Qual o seu nome mesmo?
Não acredito que ela não sabe o meu nome!
- Jack.
- Bom, Jack... Eu quero que saiba que minha vida pessoal nada tem a ver com minha vida profissional, portanto, espero que não haja comentários, não vou admitir nenhum tipo de fofoca com meu nome. Odeio quando se intrometem em minha vida. Isso já aconteceu uma vez, e a pessoa até hoje não conseguiu emprego em qualquer outro lugar. Espero ter sido bem clara.
Que mulherzinha arrogante!
Não respondi, levantei-me, peguei minhas coisas e saí. Quando eu estava no estacionamento, ouço alguém chamar meu nome.
- Hei! Jack!
Virei-me pra ela e esperei.
- Você ouviu o que eu disse?
- Ouvi, sim.
- E entendeu?
- Entendi.
- E não tem nada para me falar?
- O que quer ouvir?
- Que compreendeu o que eu quis dizer.
- Já respondi isso agora mesmo. Eu entendi.
- Ótimo! Melhor pra você.
Ela virou-se e foi em direção ao elevador. Entrei em meu carro e fui embora.
Qual era o problema dessa mulher? Por que não gostava de mim? Bom, acho que ela não gosta de ninguém. Que se dane!
Passou-se uma semana, e mais uma vez encontrei Livi com a delegada na boate. Elas estavam se beijando... Na boca!
Fui ao banheiro e encontrei Livi.
- Oi, Livi!
- Oi.
Ela lavou as mãos e saiu. Nem me olhou!
Por volta das 3 horas da madrugada, Livi veio à minha mesa.
- Você está com sua câmera aí?
- Não! Estou me divertindo, não trabalhando. Por que?
- Porque Laura recebeu uma ligação. Mais 2 corpos encontrados sem as cabeças, e parece que desta vez há uma pista. Precisamos ir até lá.
- Ok. Minha câmera está no carro, podemos ir agora.
- No carro? Você disse que não estava com ela.
- Você perguntou se eu estava com minha câmera aqui. Como pode ver, aqui não.
Ela bufou e disse:
- Vamos logo! Laura nos espera.
Chegamos ao local do crime. A mesma cena aterrorizante. Fotografei, e aos poucos, vários jornalistas e fotógrafos chegaram.
Livi e eu fomos para a delegacia. Dentro do bolso de uma das vítimas, havia um papel com as seguintes anotações:



- O que acha que significa este bilhete, Laura?
- Creio termos uma pista de como o assassino atraí suas vítimas.
- Pela Internet?
- Sim, Livi. Está parecendo que sim.
- E como você pretende pegá-lo?
- Ainda não sei, mas quero te pedir para não publicar isso.
- Como não? Essa descoberta é importante e quero dá-la em primeira mão.
- Não, Livi! A imprensa está “caindo em cima” de mim, já perceberam que você é minha “protegida”. E também, se alguém publicar esta notícia, o assassino poderá se precaver e mudar seu modo de ação.
Livi não pareceu contente com a decisão da delegada. Laura aproximou-se de Livi e passou a mão em seu rosto.
- Não fique assim, Livi. Prometo que assim que eu tiver mais pistas, você será a primeira a saber. Por favor! Dê-me um sorriso!
Livi não lhe deu o sorriso, ao contrário, olhou para Laura com um olhar desaprovador e tirou a mão de Laura de seu rosto, olhando para mim em seguida.
Laura pediu licença e saiu da sala.
- Jack, fotografe esse bilhete.
- Não.
- Não? Faça o que estou mandando. Agora.
- Não farei isso. Você ouviu o que a delegada disse. Sem notícia.
- Não perguntei sua opinião, apenas lhe mandei fotografar.
- E eu disse que não o farei.
- Então me dê essa câmera, se você não tem coragem, eu tenho.
- Não lhe darei minha câmera, e não vou fotografar.
- Garota, você sabe o que eu sou capaz de...
Laura entrou na sala.
- Livi, darei uma entrevista coletiva. Você vai participar?
- Coletiva? Por que vai fazer isso?
- Já expliquei porque, portanto, se quer sua reportagem, siga-me.
Livi saiu bufando. Eu a segui. Laura concedeu a entrevista, sem mencionar o bilhete encontrado com uma das vítimas. Ela estava empenhada em encontrar o assassino, prendê-lo e acabar com essas mortes. Até que um dia, ela telefonou para Livi na redação do jornal e fomos até a delegacia.



- Livi, tenho um suspeito.
- Quem é ele?
- Na verdade, são três. Eles agem nas cidades próximas.
- Como descobriu? Já tem a descrição deles?
- Livi, a única coisa que quero que publique, é que já temos o suspeito, sem mencionar que são 3 e que estão se aproximando das vítimas através da Internet.
- Mas, Laura...
- Nem mais, nem menos. Essa informação estou te dando em primeira mão, faça o seu trabalho ainda hoje, porque amanhã vou convocar outra entrevista coletiva. Estão me pressionando, Livi.
Livi resmungou qualquer coisa, mas fez o que Laura havia pedido.
No dia seguinte, nossa matéria estava na primeira página.
Em reunião com o chefe, Livi discutiu com ele.
- Mas o que há com você? Só tem essa porcaria pra me mostrar? Todos os jornais publicaram a mesma coisa.
- É só o que a polícia pode nos informar.
- Mas você sempre teve mais do que todos. O que aconteceu?
- Não aconteceu nada. Nem tudo pode ser divulgado, Laura foi bem clara quanto a isso, porque pode prejudicar as investigações.
- Ah! Então você sabe mais do que diz!
- Não. Sei apenas o que foi noticiado.
- Livi, te conheço há muitos anos e sei que você está me escondendo alguma coisa. Se tem mais informações sobre esse caso, quero que me passe o quanto antes, senão...
- Senão o que? Vai me demitir?
- Livi, não me afronte!
- Estou cansada de suas ameaças. Sou a melhor repórter que você tem, se quer me demitir, esteja à vontade, sabe que não preciso disso aqui. Sou competente e capaz de encontrar um emprego melhor do que este.
O chefe ficou calado e, visivelmente aborrecido, falou:
- Livi, um dia você vai encontrar alguém que abaixe esse seu nariz empinado, que vai acabar com sua arrogância. E quando isso acontecer, terei o maior prazer em cumprimentar essa pessoa.
Livi saiu da sala.
- Jack, quero me desculpar por Livi. Ela tem um gênio difícil, mas é um boa moça.
- Sem problemas, chefe.
- Como vocês estão se dando trabalhando juntas?
- Profissionalmente.
- Imaginei. – Disse ele sorrindo. – Desde quando Livi era criança, percebi que ela tinha a personalidade forte, marcante. Era uma menina decidida e independente. Ela jamais soube ouvir um “não”. Mas ao meso tempo, Livi era meiga, gentil, carinhosa...
O chefe conhecia Livi desde criança?
- Quando sua mãe morreu, ela se fez de forte, e dizia que precisava cuidar de mim. Consegue imaginar uma garotinha com apenas 5 anos de idade, cuidando de mim?
Espera! O chefe era...
- Chefe, o senhor está dizendo que Livi é...
- É minha filha, Jack!
- Caramba! Nunca percebi!
- Eu sei. Ela faz questão de ser uma “funcionária” como outra qualquer. Não gosta de ter regalias, nunca gostou. Ela diz que é competente o suficiente para trabalhar sem que o pai, que é dono do jornal, passe a mão em sua cabeça. E ela provou isso. Durante todos estes anos, ela provou que é realmente competente.
- E Laura? O senhor a conhece?
- Sim! Elas são amigas há muitos anos, fizeram faculdade juntas.
Amigas. Sei.
- Bom, chega de papo furado, né mocinha? Vamos trabalhar!
- Claro, chefe! Saí da sala e fui para a minha mesa. Fiquei olhando para Livi. Ela escondia tantos segredos! Tantos mistérios! E eu estava disposta a desvendar.






Em um sábado, eu estava na boate e encontrei Livi. Ela estava sozinha.
- Onde está sua delegada?
- Isso não é da sua conta.
- Calma! Só estou querendo saber se sua delegada já tem novidades sobre o caso.
- Primeiro: Laura não é minha delegada. Segundo: nenhuma novidade. Terceiro: com licença.
Eu a segurei pelo braço, puxando-a para mim. Ficamos com nossos rostos perto, bem perto.
- Por que me trata desse jeito? Por que não gosta de mim?
- Solte-me!
- Não vou soltar enquanto não me responder. Quero entender. Eu tento ser gentil com você e parece que...
- Olha, Jack... Não precisa ser gentil comigo, não somos amigas, apenas trabalhamos juntas. Agora me solte.
- Por que não gosta de mim?
- Solte-me! – Ela gritou.
- Responda.
Ela tentou se soltar, mas eu a segurei e a beijei na boca. Ela lutou um pouco no começo, mas depois se entregou.
Quando parei de beijá-la, ela levantou a mão e ia me dar uma bofetada, mas eu segurei seu braço.
- Cretina! Quem te deu o direito? Quem você pensa que é?
Livi estava furiosa. Eu sorri.
- Está sorrindo por que? Estou mandando você me soltar.
- Você até pode me dar ordens no trabalho, mas aqui não.
- Solte-me!
- Vou te soltar, se prometer não me bater.
- Solte meu braço agora.
- Prometa.
- Não vou prometer nada.
- Ah, não? Legal! Vou te beijar de novo.
- Não! Eu prometo.
- Diga: prometo não bater em você, Jack.
- Eu já disse que prometo.
- Fale.
Ela estava realmente muito irritada. E eu... me divertindo.
- Eu prometo não bater em você.
- Não ouvi meu nome.
- Eu prometo não bater em você... Jack.
Disse ela, rangendo os dentes.
- Ah! Agora sim, está melhor!
Eu a soltei e ela disse:
- Você vai se arrepender disso.
E saiu.
Segunda-feira, quando cheguei à redação, Livi estava na sala do pai, gesticulando, gritando, estava muito nervosa. De repente, ela saiu da sala batendo a porta com força, e veio até minha mesa.
- O chefe quer falar com você.
- Obrigada, Livi!
Ela foi para a mesa dela, e eu para a sala do chefe.
- Com licença, chefe.
- Entre, Jack. Sente-se.
Ele ficou me olhando, parecia me analisar.
- O que houve entre você e Livi?
- O que ela lhe contou?
Ele narrou a história contada por Livi, faltando alguns detalhes, claro! Eu sorri, e lhe contei como tudo aconteceu, não falando sobre o beijo.
- Você sabe que arranjou uma inimiga mortal, não sabe?
- Eu sei.
- Ela me disse que você a beijou. Na boca. Isso é verdade?
Livi teve coragem?
- Sim, senhor. É verdade, mas...
- Calma! Eu sei sobre a condição sexual de minha filha. Eu preferia poder ser avô, mas ela fez sua escolha. Livi exigiu que eu a demitisse, entretanto, não farei isso.
- Vou entender se quiser me demitir.
- Não vou te demitir, Jack. Você conseguiu uma façanha! Nunca vi Livi tão irritada.
- Desculpe, chefe, mas sua filha está sempre irritada.
- Ela está sempre de mau humor, não irritada. Entende o que quero dizer?
- Mais ou menos.
- Não importa. Quero que continue trabalhando comigo, você é ótima profissional. E quero que continue tentando domar minha filha.
- Domar sua filha?
- Isso mesmo! Quero que trate minha filha da mesma maneira que a tratou na boate. Não se intimide. Consegue fazer isso?
- Bom, se ela continuar me tratando desse jeito, não será difícil.
- Perfeito! Faça o que tiver que fazer. E não se preocupe com seu emprego, ele está garantido.
- Chefe, o que o senhor disse a ela?
- Disse que não iria demitir você. Por que acha que ela saiu da minha sala batendo a porta?
Sorrimos, e saí, voltando à minha mesa. Era bom ter o chefe como aliado. Quando Livi me viu, eu lhe dei o meu sorriso mais irônico, e ela me lançou um olhar mortal. Mas encantador!
Quarta-feira, 1h32m. Meu telefone tocou.
- Jack, acorde! Laura me telefonou, ela prendeu os suspeitos. Temos que ir para a delegacia agora. Já estou saindo, nos encontraremos lá.
Era Livi. Fui imediatamente para a delegacia. Quando entrei na sala de Laura, elas estavam discutindo.
- Você não pode fazer isso comigo! Por que tanta mudança? Sempre me deu as notícias em primeira mão.
- Livi, por favor, tente compreender. Não posso mais fazer isso. Esse caso está sendo falado pela imprensa de todo o país, inclusive fora. Não tenho como lhe conceder uma entrevista exclusiva. Quer que descubram o motivo de você ter tido matérias exclusivas e em primeira mão, durante todos estes anos?
- Não me importo, Laura. Quero exclusiva.
- Sinto muito, não poderei fazer isso. Não com este caso.
- Droga! Você não vai fazer isso comigo!
- Desculpe, Livi.
Laura tentou abraçá-la, mas Livi a empurrou.
- Não ponha as mãos em mim!
- Por favor...
- Não. Ou você me dá essa exclusiva ou então...
- Então?
- Então me esqueça!
- Livi, pelo amor de Deus, não faça isso comigo.
- Escolha.
Laura pensou e disse:
- Está bem. Posso me “ferrar”, mas não posso te perder.
- Ah, Laura! Obrigada!
Livi abraçou Laura. Como ela poderia ceder tão facilmente? Livi era uma arrogante manipuladora. Eu sentia pena de Laura.
Laura pediu licença e saiu da sala.
- Você acha que pode mandar em todo mundo, não é?
Ela me ignorou.
- Por que fez isso com ela? Laura pode ser punida por dar preferência à você. Sem contar que podem descobrir o caso de vocês. Ela é uma delegada! Não se preocupa com o que pode acontecer com ela?
- Não se meta! Isso não é da sua conta.
- É da minha conta sim. Você está sendo egoísta. Quando ela voltar, você vai dizer que ela pode dar a entrevista coletiva. Você vai liberá-la.
- O que? – Ela gargalhou. – Você enlouqueceu!
- Tenho amigos em jornais, revistas, televisão. Diga-me! Como você acha que ia repercutir a manchete: “Delegada da Polícia Civil tem caso com uma famosa Jornalista”.
- Você está me chantageando?
- Não! Acha que eu seria capaz de fazer isso com você?
Eu sorri.
- Você é muito cínica. Isso é chantagem sim. Mas não me importo.
- Não se importa por você. Mas... e por ela? E por Laura?
- Você não seria capaz... Não teria coragem.
- Quer pagar pra ver?
Laura entrou na sala.
- Livi, todos os jornalistas estão aí fora. Mandei que aguardassem. Vamos logo fazer essa entrevista, porque preciso...
- Laura, Livi tem uma coisa para te falar. Não é, Livi?
Ela me olhou com ódio.
- Vai, Livi! Conte a ela o que decidiu!
Livi andou de um lado para o outro.
- O que há, Livi? O que tem para me dizer?
Ela chegou perto de mim e falou:
- Eu vou acabar com você.
- Livi?
- Laura, eu... Eu...
Livi me olhou, e pude ver faíscas saindo de seus olhos. Eu a encarei, não me intimidando nenhum pouco.
- Livi, por favor...
- Laura, eu concordo. Você não precisa me dar a entrevista exclusiva.
- Não? Não mesmo?
- Pensei e você tem razão. Não é justo.
Laura abraçou Livi.
- Obrigada, Livi!
Laura falou com os jornalistas, e lhes contou todos os detalhes do caso dos assassinos das cabeças cortadas.
- Eles se aproximavam das vítimas através de salas de bate papo, os envolviam, se diziam apaixonados, e depois, marcavam encontro com 2 homens ao mesmo tempo e no mesmo local, e assim, atacavam violentamente os homossexuais. Isso é um crime de Homofobia.
- Delegada, por que eles cortavam as cabeças?
- Porque eles acreditam que os homossexuais são doentes mentais, que o problema deles está na cabeça, e estavam cortando o mal pela raiz.
- A polícia está certa quanto aos suspeitos? Não há risco de engano?
- Não há engano. Eles confessaram e sentem orgulho do que fizeram. Não demonstram nenhum remorso e acreditam estar salvando o mundo.
- Então, a senhora pode confirmar que este caso está encerrado?
- Sim! Este caso está encerrado.

CONTINUA...


RM

"Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos, terá sido mera coincidência. Não são fatos reais”.

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